Narrativas do quarto- O ratinho pajé

Essa travessia me encontrou menina.
Desde então me leva sorrindo pela mão, principalmente aonde encontro todos os meus nãos.

Resgata alma, é o que dizem. 
Foi assim, 
e é.

Você perde algumas partes pelo caminho, e a história sempre reencontra,
trazendo o pedaço de volta,
um atrás do outro,
recomeço.

Na história a parte que me cabe generosa,
esse encanto-coração, esse corpo da história,
oração onde mora a memória e todas as suas amigas.

Espera que aguarda mudança deitada no leito de um quarto que vira rio, mato, noite fogueira,
céu estrelado.
O corpo tem esperança, as vezes de doer paciência, mas a menina, presença da história,
é toda sapiência.

Assim ouve a voz,
do que aprende à morar,
habitar meus dias de pescar o encontro e a sabedoria.

Outro dia, foi num quarto.
Dois meninos,
entre as camas, 
o tempo.

O mais velho calado com o peso pesado do corpo.
O pequeno tão rápido, girava rolando o vazio do quarto.
As mães sorriam, observando a faísca do encontro,
que pedia espaço.

Os contadores respeitaram a distância entre o calado e o rápido,
e assim aconteceu o contato,
numa dança improvisada pelo tato.

O moço calado foi pego pela jornada de um rato, que mudou tantas vezes de forma, que pode experimentar tudo o que fosse,
menos quem ele era de fato.

Viveu como sapo, onça, gavião, até pajé, mas no fim daquela travessia,
ficou muito cansado de tanto fugir de quem era, que acabou mudando de floresta.

Mudança com sorte, de algum aprendizado.

O riso foi imediato, 
entre os cúmplices daquele quarto.

O pequeno, dançava todos os bichos, e os contadores se deram conta que a palavra naquele encontro, seria de dança.

Então ela armou-se em prumo da sua criança, e naquela noite aconteceu a mais bela festança que uma lebre adulta poderia fazer: o encontro com uma criança.

O passo,
do mais estapafúrdio à melhor intenção de todas,
ao encontro.

E foi assim que aconteceu, um grupo de aprendizes contadores eternos de histórias, que a menina-mulher, essa velha, segue aprendendo a colocar o corpo da palavra para andar, como disse a voz xamã de uma encantadora de histórias, certa vez.

Nesse grupo os quatro elementos.
Quatro mestres do fogo, da terra, da água, do ar. Mestres do espírito, guiando a mais linda voz alquimia, esse gesto de dar, encantar, de encontrar a própria narrativa.

Aos mestres eu sigo cantando meu agradecimento cotidiano. Desse encontro sagrado, esse profano, poesia eterna do meu jardim. 








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