Sr. Luiz
Entrei no recanto ao final do dia. O bacalhau cheirava bem e
além das minhas economias.
Por consideração, pedi prato feito com carinho minimalista
de salivação que a nada desperdiça. Caprichado no que interessa recheio, pois
arroz branco é pura distração ao tubo.
O Sr. Luiz trouxe o pãozinho e a lata de azeite português.
Pedi pelo menor preço, escolhendo a omelete, pois sabia que naquele recinto
qualquer PF seria o melhor possível.
O Sr. Luiz tinha um sotaque difícil de compreender, como se
dissesse com a maior clareza á si, e aos outros, que se esforçassem para abrir
os ouvidos o bastante.
Um corpo amoroso, falante, de olhar molhado no centro da
cidade.
Reparti com mãos o pão ao meio cobrindo o prato com o fluído
dourado do outro lado do atlântico. A melhor refeição da vida acontece onde
menos se espera.
O Sr. Luiz ofereceu mais pão, percebeu minhas economias
discreto, e assegurou que me retirasse do recinto sustentada por sua
hospitalidade.
Ofereceu o melhor que qualquer um poderia receber, fartura.
Brasil-Portugal há 54 anos na Rua do Boticário servindo beleza com simplicidade
de lápis anotando em comandas e retornando atrás das orelhas de seus 71 anos.
Como Sr. Luiz, poucos apresentam uma refeição no centro da
cidade. Rezo aos dias para que jamais desapareça o que ele me fez naquele balcão: bondade e alimento.
Sr. Luiz foi Deus me tocando o espírito, com pão francês e
azeite de oliva em presença que a alma soube reconhecer e chorar o
agradecimento ao o que endurecia dentro, não fosse o doce de leite com que
insistiu que eu recebesse ao lábio, provando a lembrança do melhor caminho
que há, por conta da casa.
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