rio da sorte

Tia, a gata tá  grávida de gorda,
ela entrou aqui pra mijar no ralo do chuveiro e ir embora pra lugar nenhum tia.
Nesse vale aqui, a água acabou e empedrou tudo.
Endureceu, acimentou aqui no olho, e se eu chorar eu morro de falta de ar tia, dá não.
Emoção de raiva mesmo, que é pra sair do lugar e fazer andar, pra não rolar abaixo o resto da vida que resta.
Eu tô doente tia, de verme ou de esperança, o moço disse anemia funda,
desse ferro que só me açoita a cara pra não sentir fome de pedir bonança.
Nenhuma mudança tia, pra encher a falta, só cobrança.
Enterraram o rio doente no vale, com um monte de criança vazia de vida tia.
Fazer sumir da vista o maleficio, pra não atrapalhar a vista da avenida.
Fantasma de índio, que nem eu, excluído tia,
canta todo o lamento quando aqui jaz silêncio.
Assombra tudo o que não puderam enterrar tia,
e dói tanto de frio que eu consigo ouvir a morte cantando baixinho, guardando o rio e a minha sorte.





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