aos sobreviventes


Sentados como pombos enfileirados, aguardavam,  à espera do avanço das senhas piando ao painel. Tédio perfumando as vestes desgastadas por desemprego vaporizando o suor dos pescoços, na iminência de talvez alguma boa notícia liberar a todos do cair vermelho, hemorrágico chão daqueles tempos.
Inventiva de alguma ordenação palpável de vida, pastinhas de documentos em ordem alfabética, impecável e ilimitada mentira das ilusões mal administradas e impostas aos limites de crença naquele órgão.
Nenhum livro em mãos para dar-lhes dignidade e atenuar o massacre da espera do corpo, apenas aparelhos celulares com jogos neon saltando da tela, parcelados em tantas vezes estendidas.
Abismo consentido em espera, retraindo toda a sala de intenções procrastinadoras e nenhum lugar disponível para sentar a espera por papéis e números de busca por fio retomado de vida em saldo positivo.
Olhos vidrados ao chão de mármore combinando com o tom das paredes, opaco e vazio de delicadas placas azuis de subtexto- aqui todos os afogamentos, área escorregadia.
Risco de sumiço, fila longa inundando e nenhum horizonte à espera.
A senhora desamparando cansaço, pede ajuda à mocinha que lhe responde - não podemos fazer nada senhora.
Meu homem bomba entrou naquele momento apitando o detector de metais, somente cartão às mãos e um largo bastão abaulado de metal dilatando-lhe o cú sorrindo. Bela denúncia, desobediência de baixar as calças do recato que lhe sobrou apertado em algum canto canto escondido no extremo domínio das partes, retirando do mais escuro o empalamento dos nossos dias, repousando o objeto na gavetinha de pertences, reservando algum odor cru ao cessar do alarme insistente.
- Senhora alguma coisa de metal na sua bolsa, isqueiro, chave, guarda-chuva, celular. Está apontando alguma coisa de metal senhora.
Eis que o homem passa assobiando a encenação do corpo pacífico, à vontade e cordial ao campo de concentração silenciosamente instalado.
-Senhora não pode colocar a bolsa aqui.
Que bagunça, comenta a mocinha com algum sarcasmo, limitando a reclamação em comentário único de insatisfação. Apegando-se à dignidade de evitar, lhe levassem o brio e acabasse dispersa e vazia como os corpos-outros daquela espera, abandonados ao teto, como balão de gás hélio escapado da mão da criança que rodopiava inteira o vazio.
Sim, ela girava regozijando a larga plateia, realizando seu arriscado número de resistência.
Vestida de morango, girava o ousado desempenho  risonho, tombando ao limite da tontura assumida chão, pondo-se novamente ereta, e dispondo-se a girar orgulhosa como em treinamento habilidoso do despencar dos dias.
Aplaudi a menina enquanto à mãe lhe negava a dança porvir.


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