Mãe



A água havia lhe pedido que fosse embora aquele dia. Entrou num ônibus sem saber como chegaria e fez a travessia de doer certezas antigas.
Lendo Patty Smith enquanto a cidade sumia, viu na estrada o acidente, um corpo inerte ao chão. Fechou os olhos acreditando que pudesse fazer algo pelo corpo com gesto de pedir e intervir. Pediu apoio ao corpo, que voltasse a respirar inteiro de novo.
Algo lhe doeu no peito cru.
Foi pesada assim que fez a travessia na chuva fina e aguda da balsa.
Junto aos carros de denso aço, vidro, plástico, peças miúdas e crianças tirando selfies dentro da cobertura seca dos automóveis, caminhou pela água até a entrada da trilha.
Junto a um grupo de jovens caiçaras que moravam ali, entrou pelo caminho de barro, embalou uma conversa com a moça mais próxima que desatou a lhe contar sobre o encontro que ia ter com um rapaz gringo, que passava dias hospedado por ali.
Mais segura do caminho, mal notara, havia chego na entrada pequena de onde podia ouvir a água salgada.
Derramando suas coisas no chão macio, mergulhou a cabeça quente e todos os seus medos na água branda de mar morno e lá ficou até o sol levar o vazio do qual sofria.



Comentários

Postagens mais visitadas