CAMA II


A espera do andar da hora que me desabita. Daqui, corpo dedilhado abandono de exaurir o eriçar da espinha, afastando do olho a intimidade que perdeu-se de vista. Silêncio do que virá noturno falar ao espírito, onde a entrega ao tempo sumira, cedendo espaço ao murro entre as pernas, ao peito acimentado, espreitando o afeto desaparecido.

Fim da linha calado, matando o concreto dos dias, meu vazio. Voz de gesto sereno de quebrar telhas, azulejos, esmagando as garrafas de vinho em cacos muito gratos à vida dos pulmões em queda amorosa. Da dor racionalizada em encontro com pensamentos cirúrgicos a base de marreta de obras, em tudo, enquadramento constante, o que cede a forma para barrar o desfazer-se de qualquer memória.
O silêncio me descabia da hora de qualquer escuta, escombro, em abismos disfarçados de sono estalado, peito acelerado do ventre. Algo morto, manchado no macio de qualquer convicção presente. 
Desencontro da paz, que há tempos me perdeu consumindo todas as minhas cutículas e unhas roídas por corpo muito distante do meu. 

Da dor. 

Qualquer toque me mataria, 
por favor.


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