Verbo


Vestindo a camisola da tia Ana Francisca, mulher discreta e elegante, soube-se nu por baixo do tecido fino.
Contemplou silêncios de estar só, peito aberto aos pulmões das amplas janelas da casa. Cachaça em copo de whisky aquecendo os segredos da boca, trajetos ocultos dos pés, e o outro que ficou do toque das mãos. Calado, o desejo do corpo ceifado no intelecto de aros pretos sussurrou: saudade.
Sentado ao piano, deu-se a tocar a completa ausência de tremor em mãos, livres naquela noite, da cadência da hipocrisia aristocrata, tocando alto ao bom som do coração de um homem que sorria nu.
Todos os abismos da teoria em contraste com a vida, gravatas e paletós dando limites ao corpo nu vestido de todos os rigores que não seus, despejando os desejos genuínos à calada da noite. Controle polido, e a ausência do cru construindo homens muito letrados, pouco incorporados, pois restritos e elegantes.

Naquela noite, fechara as portas para a voz de toda a burguesia e sorria tocando o presente mais encarnado de todos, a liberdade.

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